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História Tube Amps para instrumentos

A Válvula Eletrônica

As válvulas termiônicas, tubos a vácuo ou válvulas eletrônicas como são comumente chamadas, foram as precursoras, e o começo da eletrônica. A invenção das válvulas possibilitou o desenvolvimento de toda a eletrônica. Através delas foi possível então a invenção do telégrafo, do rádio, da televisão, dos computadores eletrônicos binários. Surgem os transistores, as válvulas foram sendo gradualmente substituídas, e caíram no parcial esquecimento, os transistores eram menores e mais baratos, parecia óbvio o destino das válvulas.

Por volta dos anos 80, muitos periódicos especializados em eletrônica previram a extinção das válvulas, mas atualmente (2019) existem muitas aplicações para as válvulas eletrônicas, são ainda usadas atualmente em transmissores de rádio AM e FM, por ainda serem mais eficientes, e ainda, existe um ramo da eletrônica, a do áudio hi-fi, áudio profissional, e áudio voltado para audiófilos, ainda áudio para os músicos, da qual as válvulas estão em plena ascensão, tubos de raios catódicos, geradores de raio X, fornos microondas, são exemplos de aplicações atuais para as válvulas, até mesmo os altamente tecnológicos aceleradores de partículas tem seu principio fundamentado nas válvulas.

Primeiro Amplificadores de Instrumentos

Os primeiros alto falantes de cone só foram produzidos para venda em 1925, antes disso somente cornetas, os primeiros amplificadores eram alimentados por pesadas baterias o que os tornavam de difícil portabilidade, assim que os engenheiros desenvolveram modelos alimentados por CA ( corrente alternada), os músicos começaram a amplificar seus instrumentos. No começo da era da guitarra elétrica, os músicos instalavam captadores em seus violões e banjos, e precisavam de amplificadores, em 1928 Stromberg-Voisinet foi a primeira empresa a fabricar instrumentos de cordas elétricos e amplificadores, sem sucesso de venda, mesmo assim surge a ideia de amplificador portátil, em 1929 a Vega Electrics lança um amplificador para banjo, e em 1932 a Electro String lança um amplificador para captadores magnéticos de guitarra, era uma caixa de madeira com alça contendo um alto falante um amplificador valvulado (ainda não tinha transistor), a Vivi-Tone e a Rickenbacker lançam seu amplificadores combo similar, Audio-Vox foi fundada por Paul Tutmarc , o inventor do primeiro baixo elétrico (o instrumento de Tutmarc não alcançou sucesso no mercado até que Leo Fender lançou o Precision Bass ) .

Os primeiros amplificadores Fender foram feitos em casa a partir de 1946 Model 26 Deluxe, Princeton e Profissional, ainda sob nome K&F Manufacturing. Nos anos 50 os amplificadores tinham comumente baixa potência cerca de 15W, vários guitarristas experimentaram a distorção valvulada, o overdrive. Na década de 60 Dick Dale colaborando com a Fender ajudou a produzir o primeiro amplificador de 100W, a distorção tornou-se ainda mais desejada, Dave Davies do The Kinks conectou a saída de um amplificador na entrada de outro aumentando a distorção. Nos anos 2000 é comum a distorção e overdrive serem integrados ao amplificador.

Timbre Americano e Britânico

Sem dúvida os amplificadores mais famosos do mundo são os pertencentes a marca Marshall, fica na memória pilhas de caixas Marshall nos palcos dos astros do rock. O ícone dos amplificadores valvulados emplacou com Jimmi Hendrix, talvez o maior guitarrista da história, que usava pilhas de Marshall em seus shows, apesar de gravar em amplificadores Fender em estúdio.

A história da marca começa em 1960, o baterista Jim Marshall abre uma loja de instrumentos no Reino Unido, vendendo kits de bateria, e amplificadores Fender importados dos Estados Unidos, os músicos procuravam guitarras Gibson 335s, Fender Strato, a amplificadores Fender Tremolux, que eram caros, e a procura por amplificadores cresce e a encomenda dos amplificadores demoravam chegar, deixando uma lacuna no mercado de amplificadores, que eram parcialmente preenchida por marcas caseiras britânicas, feitas a mão como, Dominator, o Bird Golden Eagle, e Vox AC30.

Ken Bran, reparador da loja de Jim Marshall, deu a sugestão de montar amplificadores para baratear custos e suprir a demanda. Os primeiros amplificadores Marshall, os JTM-45 Plexiglass eram uma cópia, com poucas modificações dos amplificadores Bassman 5F6-A Fender.

Os amplificadores Fender Bassman usam válvulas 5881 e 6L6 americanas, no amplificador de potência e a válvula 12AY7 no pré amplificador. Já os amplificadores Marshall usavam nas válvulas de pré as 12AX7 (maior ganho) e as válvulas de saída EL34 britânicas, mais baratas.

Essas modificações, talvez por disponibilidade de componentes para a montagem dos amplificadores, criaram o “Timbre Britânico”, os músicos ainda descobriram que se fizesse um jumper entre certas entradas do amplificador Marshall, era possível cascatear os canais normal e brilhante, aumentando ainda mais o ganho, os projetistas de Jim Marshall incluíram a modificação no modelo JCM800, que passou a ter um canal Lead e um Normal. Normalmente considera-se o timbre americano Fender, mais “limpo”, com mais “headroom”(espaço para a dinâmica da música crescer), timbre preferido por músicos do blues, jazz e country, enquanto que o timbre britânico Marshall tem mais “overdrive” preferido pelos músicos dos hard rock e metal. O que de fato é meia verdade, tanto a Fender quanto a Marshall, e outras marcas, possuem amplificadores valvulados dos mais variados timbres, mas este foi o mito criado do timbre britânico vs timbre americano.

Mitos e Verdades

(Artigo Resgatado do antigo site tubeamps) Nos últimos 10 anos, uma verdadeira febre assolou o mundo da música Trata-se do retorno dos amplificadores valvulados para guitarra elétrica e gaita. Não que antes disso não fossem reconhecidos mas, foi nestes últimos anos que eles foram “redescobertos”. Este site tem sua parcela de culpa no Brasil, uma vez que após a criação da Tubeamps, outros fabricantes de boutique ou “handmakers” pegaram carnoa nessa onda, bem como dois dos maiores fabricantes nacionais resolveram incrementar suas pobres porém rentáveis linhas de amplificadores com algo que realmente funciona. Na internet encontra-se todo tipo de informação e, cabe ao leitor dessas informações, analisar friamente, raciocinar um pouco (é, raciocinar) e tentar concluir se as informações são coerentes ou não. Pode-se utilizar do recurso “uma certa informação que é repetida por diversos sites está, infalivelmente, correta”. Mas, mesmo assim, corre-se o risco de ser mais um a acreditar em lendas infundadas. Neste artigo, irei me concentrar nas lendas que atingem apenas o timbre de amplificadores valvulados para guitarra e o que tanto se diz sobre o que é necessário para que seu amplificador tenha o timbre dito vintage.

(Note que essas lendas sempre são endossadas pelos que diretamente lucram com elas, por exemplo alguém que acumulou um belo lote de capacitores antigos (e vencidos) vai, evidentemente, fazer propaganda positiva quanto ao“ som deles”) Alguns conceitos são extremamente difundidos, a ponto de parecerem (ou até mesmo serem em algums casos) verdades absolutas: 1. As válvulas que se faziam na era dourada (até 1972) eram melhores que as produzidas hoje em dia; 2. As válvulas de então soavam melhor do que as de hoje; 3. Os amplificadores de então tinham componentes gerais melhores que os de hoje; 4. A madeira utilizada nos gabinetes dos amplificadores influi terminantemente no timbre; 5. Os alto-falantes da época eram feitos com muito maior qualidade que os de hoje; 6. Os transfomadores de saída de audio de então eram infinitamente melhores que os de hoje; 7. Os amplificadores com válvulas retificadoras soam melhor que os que tem retificadores a diodo de silício 8. O tipo de ligação de componentes influi no timbre 9. Conclusão 1. As válvulas que se faziam na era dourada (até 1972) eram melhores que as produzidas hoje em dia É reconhecido mundialmente, pelo que se diz na internet, que as válvulas atuais são de pior qualidade que as antigas e que nenhuma válvula de qualidade atual pode competir neste quesito com as vintage. Por outro lado, é fato que elas custam menos hoje do que custavam antigamente. Os russos e os chineses estão produzindo a todo vapor e o mercado comsumidor está em fase crescente. Tenho minhas próprias experiências que aqui vou relatar: Nunca fiz um teste de durabilidade, mas tenho visto dezenas de amplificadores Giannini com válvulas 6L6GC RCA ou Sylvania originais. E, depois de uma revisão obrigatória, a maioria dos amps não necessitaram ter as válvulas trocadas. Por outro lado, tenho visto as atuais válvulas russas funcionarem sem problema por alguns anos, mas essa durabilidade só poderíamos, nós meros mortais, comprovar daqui a mais tempo, caso elas (ou nós) durem (ou duremos) para isso. Sabe-se que as velhas máquinas e técnicas que eram utilizadas para se fazer as antigas válvulas nos EUA e na Europa foram adquiridas pelos chineses. Já os russos sempre produziram válvulas, ao ponto de a terem aperfeiçoado (é notória a história do MIG-25 cujo piloto pousou no Japão, deserdando a então URSS. Boa parte da eletrônica “secreta” do avião era valvulada). Isso parece indicar uma qualidade que, pode ter sido herdade pelos fabricantes atuais. Ao contrário do que se publica na internet, tenho constatado que as 6L6 e EL34 russas (estou falando das Sovtek) agüentam altas tensões, altas correntes de catodo (altas mesmo), ao ponto de ficarem inteirinhas cor de cereja e esquentarem absurdamente, por um bom tempo SEM pifarem. Isso me garante que esse mito da pouca durabilidade das válvulas russas é pura “balela” de americano nacionalista que ainda “não caiu na real” sobre os russos. 2. As válvulas de então soavam melhor do que as de hoje Eu já tive a oportunidade de testar um mesmo amplificador com válvulas de marcas diferentes e, devo confessar que sou incapaz de diferenciar o som de uma ou de outra. Por exemplo, o Asset Tubeamps não soou nem melhor nem pior com a utilização das RCA 6L6GC ou das as Sylvania 6L6GC. As originais Electro Harmonix 6L6EH ofereceram o mesmo timbre delicioso. Mas, neste caso é uma formulação bastante subjetiva e eu só estou expondo a minha opinião, baseado em minha própria sensibilidade. Uma medição em osciloscópio mostrará, evidentemente, diferenças dentre as válvulas de mesmo tipo e de fabricantes diferentes, talvez não mais do que entre válvulas do mesmo fabricante, uma vez que as válvulas são componentes eletrônicos de construção mecânica, o que - por si só - já seria motivo de pouca homogeneidade. De qualquer forma muitas pessoas conseguem sentir diferenças. Existem pessoas que se julgam capazes de notar diferenças no timbre de válvulas de mesmo modelo e fabricante. Tem gente que acha que percebe diferença no timbre até mesmo quando se inverte a posição da tomada de força. É importante lembrar um aspecto técnico bastante esquecido: por uma válvula não pode nem deve passar do cátodo para o ânodo (placa) nem da grade para o ânodo (placa) qualquer corrente alternada. E o som, elétricamente, é corrente alternada. O que acontece é uma variação da tensão na placa proporcional em freqüência à variação da freqüência da corrente alternada aplicada na grade de controle. Portanto, tanto uma válvula 6L6GC Sylvania de 1962 quanto uma Svetlana 6L6GC de 2005, trabalhando em na região linear reproduz, por obrigatória conseqüência, fielmente essas variações de freqüência, mantendo o timbre. Fazendo as válvulas trabalharem em regime de saturação teremos outro cenário: aí as diferenças começam mesmo a aparecer e não são tão subjetivas. O suficiente para causarem confusão. 3. Os amplificadores de então tinham componentes melhores que os de hoje Aqui estaremos falando sobre uma lenda bastante aceita, em geral. Fala-se muito, principalmente entre os ditos gurus de eletrônica valvulada, sobre o som de capacitores e o som de resistores. Diz-se que para se obter um timbre vintage, deve-se, obrigatoriamente, utilizar TODOS os componentes antigos, mas principalmente estes dois. Bom, admitindo-se que você possa encontrar esses resistores e capacitores antigos, em boas condições de manipulação, após 40 anos da fabricação, terá que admitir - obrigatoriamente - que eles estão com as principais características originais bastante alteradas pelo longo tempo que passou. E deve-se ainda argumentar: você quer um novo amplificador soando como esses antigos amplificadores soavam antigamente quando eram novos ou quer o timbre fornecido por um desses velhos amplificadores envelhecidos por 30 ou 40 anos de uso? Fala-se até em som de resistor ou som de capacitor. Um resistor ideal deveria apresentar um único efeito: resistência. Já, na prática do mundo real, eles apresentam certa indutância e capacitância adicionais. Quem sabe para enfatizar a imperfeição humana? Os ditos gurus afirmam, com toda a convicção, que essas imperfeições modificam o timbre definitivamente. O que esses gurus de amplificadores valvulados não dizem (ou não sabem) é que essas indutâncias e capacitâncias parasitas só apresentam efeitos perceptíveis em circuitos de altíssima freqüência, como rádio, radares e TV. Nos amplificadores de guitarra ou de áudio esses efeitos não existem; é como jogar um copo de água salgada numa lagoa de água doce: ninguém vai notar. Os efeitos devem ser mais inócuos ainda, uma vez que em áudio trabalhamos com uma faixa de freqüências bastante restrita (20Hz a 20KHz) e as guitarras elétricas apresentam queda livre de freqüências após os 6KHz). Outra característica dos resistores de carbono é a instabilidade de valor de resistência com tensões mais altas, antes da estabilização da temperatira. Isso produz os famosos ruídos de fritura que os amplificadores valvulados equipados com esses resistores costumam apresentar esporadicamente. Quanto aos capacitores, há os gurus que só utilizam os Sprague Orange “porque estes sim é que dão um timbre vintage”. Eles até mesmo argumentam que podem diferenciar o som de um capacitor de cerâmica, do som de um capacitor de poliéster e mais ainda do som de um extinto capacitor de papel. Argumentam que o capacitor de poliéster apresentam um timbre mais “macio” que um de cerâmica. Mais “macio” significa (parece significar) com menos agudos, isso significa que o capacitor de poliéster apresenta uma capacitância maior que o equivalente cerâmico (se utilizado em filtro corta-altas). Então, deve-se concluir que um capacitor cerâmico de 10nF tem um timbre mais áspero que um capacitor de poliéster de 10nF. Ah sim, cerâmica ou poliéster são os isolantes utilizados no capacitor, não só o material do corpo. Isso significaria que o material isolante é que incide no timbre. Reflita e tire suas próprias conclusões. Com relação a outros componentes, destaco: - os soquetes cerâmicos de hoje são melhores que os soquetes plásticos ou de baquelite antigos; - As chaves liga-desliga de hoje são tão boas ou melhores que as antigas; - Os transformadores são equivalentes ou até mesmo melhores que os antigos; (veja mais abaixo) - Resistores de filme de metal são muito mais estáveis e menores que os antigos de carbono; - Potenciômetros são tão bons ou melhores quanto o eram há 40 anos; - Instalações elétricas com aterramento não existiam ou não eram comuns há 40 anos. – As válvulas de hoje (pelo andar da carruagem) parecem ser tão duráveis quanto as antigas 4. A madeira utilizada nos gabinetes dos amplificadores influi terminantemente no timbre Provavelmente sim, um pouco. Afinal o som que ouvimos em altos volumes (altos o suficiente para sentirmos o impacto) é o ar posto em movimento violentamente pelos alto-falantes. A função da caixa acústica é cancelar (ou tentar cancelar) o som fora de fase provocado pela tentativa de retorno do cone à sua posição original. Existem técnicas para aproveitar esse movimento através de uma inversão de fase adicional de forma a reforçar o som frontal, mas isso não vem ao caso aqui, uma vez que esse recurso é mais para reforçar os graves em caixas acústicas de audio. Uma caixa acústica, fechada ou aberta na traseira, deve apresentar uma determinada freqüência de ressonância que entrará em ação sob certas condições durante a utilização. Resta aceitar que essa vibração seja forte o suficiente para movimentar o ar ao redor e competir e mesmo modular o ar movimentado pelos alto-falantes a ponto de interferir no timbre. Isso só pode significar que você não deve aceitar nada menos que um gabinete de pinho sólido (de preferência com mais de 100 anos, como diz um certo guru americano) para que se tenha um timbre aceitável. Eu, pessoalmente, vi um Twin Reverb Silverface cujo gabinete era feito de aglomerado vagabundo e já estava se esfarelando. Exatamente o mesmo pode ser dito dos gabinetes Marshall e da famosíssima caixa 1960A: puro aglomerado. Isso influi no timbre? Provavelmente sim, mas apenas através de um osciloscópio. Isso influi, sim, é na durabilidade e resistência à umidade. Tenha também em mente que o compensado, à época em que os gabinetes de pinho sólido eram produzidos, custava muito mais caro que madeira sólida, principalmente por ser novidade. Isso explicaria porque se utilizava esses material para os gabinetes dos amplificadores, ao invés do vantajoso e “cool” novo material. 5. Os alto-falantes da época eram feitos com muito maior qualidade que os de hoje Eram, pelo menos, menos tolerantes a altas potências que os de hoje. Cabe aqui ressaltar algumas características que os alto-falantes de guitarra precisam ter (é estou entregando o ouro) para apresentar um timbre, digamos, nobre: - cone feito de material fino e resistente. Sim, Papel! Mesmo que seja emendado, como em alguns Eminence. - cone profundo, ou seja, de altura sensilvelmente maior que a de um cone de alto-falante comum de áudio. - ímã pequeno; - bobina estreita; - “aranha” com regulagem ideal, sem ser muito macia, para que não “embole” nos bordões e apresente aquele grave “sequinho”. (Aqui entra a experiência auditiva) - suspensão de papel sanfonado, no próprio cone - nunca de espuma; Isso tudo se traduz como um falante de má qualidade, se for pensar em um sistema de áudio de padrões atuais. Mas são justamente esses itens que mais caracterizam um bom alto-falante de guitarra. Sim, resumindo, um bom falante de guitarra é um péssimo falante de áudio. A recíproca, claro, não é verdadeira. Temos hoje à disposição os falantes Jensen, Eminence, Celestion e outros. Todos possuem reedições de seus antigos modelos até mesmo com ímãs em liga de AlNiCo. O timbre? Esses fabricantes possuem uma infinidade de modelos, para atender a infinidade de variações timbrísticas que o povo guitarreiro aprecia. Pelos modelos que tenho testado e usado, não deixam nada (nada, fora preço) a desejar. Os primeiros amplificadores Fender, Gibson utilizavam falantes típicos utilizados em reprodução do que mais era ouvido à época: emissoras de rádio AM. São os famosos falantes full-range, que abrangiam desde “quase graves” até “quase agudos”. Esses falantes ainda são produzidos hoje em dia, só que sob a designação de guitar speaker e com preços estratosféricos. Outra confusão existente é a afirmação de que alto-falantes com ímã de AlNiCo (liga especial de Alumínio, Níquel e Cobalto, com características de fortíssimo magnetismo) soam muito melhor que os de ferrite e isso, a meu ver, é uma questão de opinião bastante subjetiva. Mas a questão é que muitos “gurus” afirmam que isso se deve ao ímã própriamente dito. Por um ímã de alto-falante não passa nenhum som e nenhuma corrente elétrica. A função do ímã é ficar fixo e, por conseqüência, fazer com que a bobina se movimente num vai e vem rápido, acompanhando as variações de freqüência fornecidas pelo amplificador. Ora, é a construção do alto falante de AlNiCo que modifica o timbre em relação a um mais moderno, de ferrite. Os falantes de AlNiCo possuem um ímã tão pequeno que pode deslizar por dentro da bobina, permitem bobinas bem mais finas e a potência é relativamente mais baixa. Tudo isso favorece uma alteração do timbre que parece agradar e agrada à maioria dos guitarristas. 6. Os transfomadores de saída de audio de então eram infinitamente melhores que os de hoje Os modernos gurus da amplificação valvulada estabeleceram como regra geral que os amplificadores de guitarra precisam de transformadores de saída especiais, com as seguintes características:

a. Enrolamento entrelaçado. O enrolamento entrelaçado é tido pelos gurus como sendo mais eficiente no acoplamento, permitindo um maior rendimento do transformador e apresentando um timbre superior ao transformador de enrolamento separado. A verdade mais comum, porém, é que o enrolamento entrelaçado entre primário e secundário ajuda muito a reduzir a indutância de fuga, o que garante uma melhor resposta das altas frequencias, ou melhor, uma menor atenuação das altas frequencias. Como a guitarra apresenta resposta cadente a partir dos 5KHz, pode-se garantir que, mesmo com os harmônicos, o espectro de audio poderia ser limitado um pouco abaixo dos 20KHz o que garante que não há necessidade de se utilizar os caríssimos transformadores de HI-FI.

b. Isolamento em papel entre o enrolamento primário e secundário. O argumento aqui é que o isolante de papel é mais fino que o de plástico e permite uma maior aproximação entre as espiras dos enrolamentos, favorecendo a conversão sem perdas de potência no enrolamento entrelaçado. Tanto o papel quanto o plástico (no caso, filme de PVC) são isolantes e quem já viu isolantes de papel e de plástico pode jurar que este último é bem mais fino. Lembro ao leitor que tanto o papel quanto o plástico são completamente transparentes ao magnetismo, portanto apenas uma distância bem maior que a espessura do isolante entre os fios dos enrolamentos é que poderia interferir em timbre ou potência. A vantagem evidente do papel sobre o plástico é que o papel suporta muito melhor as altas temperaturas (quase nunca presentes em transformadores de audio) e eu mesmo nunca vi um único fabricante de transformadores de audio que não utilize isolante de papel no entrelaçamento. O papel utilizado para transformadores é especial para essa aplicação e é encerado.

c. Ferro de grão-orientado. Mais conhecido como GO, tem maior densidade, o fluxo magnético é incrementado e o resultado é uma maior indutância de primário, diminuindo a atenuação dos graves. Também diminui a indutância de fuga, o que garante menor atenuação dos agudos. Como um aumento na densidade do ferro diminui a distorção do transformador em altas correntes, com a melhora da resposta de frequência, estes transformadores foram adotados pelo mundo dos audiófilos, o mundo HI-FI.

d. Bobina de papel melhora o timbre. Isso sim é uma grande bobagem que dispensa comentários.

Na verdade, se você for projetar um transformador para, digamos, duas 6L6 a 45W (típico Bassman ou JTM45), utilizando-se de laminação e fio de bitola padrões para essa faixa de potência e resistência de placa, dificilmente não conseguirá um transformador que atenda de uns 85Hz até uns 14KHz (A indutância do primário, a fuga de indutância e a capacitância da fiação vêm de brinde nessas medidas e dentro da tolerância). Isso é mais do que suficiente para garantir um bom timbre.

O que a maioria dos gurus não leva em conta é que os velhos amplificadores considerados modelos de timbre (anteriores aos anos 70) eram feitos sem uma indústria específica para amplificadores de guitarra. Isso significa que os fabricantes entravam em contato com diversos fornecedores de transformadores que atendessem as especificações básicas para um par de 6V6 (por exemplo) e simplesmente compravam do que melhor desconto lhes desse para um lote de algumas centenas ou milhares de unidades. Nada de Grão Orientado, nada de “mas e a resposta em frequência?” e menos ainda “qual o ponto de saturação do núcleo?”. Outra prática bastante comum foi adotar transformadores desenhados para uns 15W para um amplificador de 22W com duas 6V6 (ainda o mesmo exemplo). Por que isso? Porque o preço era menor, evidentemente; além de que os projetistas tinham como certo que ninguém iria operar esses aparelhos com o volume no 10, simplesmente porque o som era “distorcido, horrível”; nem imaginavam que exatamente isso é que transformaria o Rockn'Roll. A real vantagem de se utilizar um transformador de saída levemente subdimensionado é que o núcleo satura mais facilmente e essa distorção, ao contrário do que muitos afirmam, faz - sim - parte da história do Rock.

7. Os amplificadores com válvulas retificadoras soam melhor que os que usam diodo de silício. Verdade. Soam melhor porque modificam o timbre de uma forma que se tornou agradável com o tempo, com a evolução do Rock'n'Roll. Mas isso só funciona em altos volumes. Acontece que as válvulas retificadoras apresentam uma resistência entre 100 e 150 ohms que faz com que a corrente fornecida pelo transformador de alimentação decaia quando muito exigido. Quando ele é muito exigido? No caso dos amplificadores push-pull (duas ou quatro válvulas de saída) em altos volumes. No caso dos single ended, amplificadores com uma única válvula de potência, isso não ocorre. Esse decaimento da alta tensão em altos volumes (sag) provoca uma maior compressão das válvulas de saída e o efeito obtido é muito agradável no timbre. Isso se simula perfeitamente pela inclusão de resistores divisores de tensão entre a retificação e a filtragem. Cabe ao cliente definir se ele quer que seu amp tenha ou não o famoso sag. Por outro lado, os diodos de silício proporcionam maior potência e firmeza em altos volumes. A válvula retificadora, além de aquecer muito mais que as outras, apresenta outro inconveniente: a queima dela pode provocar a queima imediata das válvulas de potência e do transformador de saída, resultando em um grande prejuízo. 8. O tipo de ligação de componentes influi no timbre

A afirmação de que as montagens no estilo antigo (PTP) são as que mais permitem obter um timbre “bom”, ou vintage é uma das informações mais fáceis de se encontrar pela internet. Até mesmo em diversos fóruns eu já li declarações de alguns adoradores do Heavy Metal que só consideram um amplificador bom se este estiver construído em PTP e isso para amplificadores de dois ou mais canais obrigatóriamente em high-gain ou ultra-high-gain. Claro que esses jovens entusiastas não têm idéia do que estão falando, pois fazer um amplificador valvulado com 5-6 válvulas 12AX7, chaveamento de canais, 10 ou mais controles, footswitch e ainda por cima o “puro” reverb de molas em PTP é tarefa para titãs e para quem gosta de problemas, pois a infinidade de fios indo e vindo e se aproximando “daqui” e “dali” irão produzir um verdadeiro inferno de ruidos, principalmente zumbidos e apitos. E mais: todos os fabricantes mundiais desses amplificadores destinados ao mundo da distorção “sem limites” são unânimes em se decidir pela montagem em placa de circuito impresso (PCB), justamente para tornar a produção, manutenção e até utilização possíveis. Agora, voltando ao assunto principal dos tipos de montagem deve-se ter em mente que, antigamente, os componentes passivos (resistores e capacitores) eram dotados de terminais longos e mais rígidos; os de hoje são curtos, finos e maleáveis. Isso, por si só, já impede qualquer tentativa bem feita de montagem PTP. E as montagens que são consideradas PTP, como a Stripboard, só são consideradas PTP porque possuem fios que ligam a placa aos componentes externos a esta (soquetes das válvulas e potenciômetros).Na verdade as montagens PTP costumam ser mais resistentes a pancadas recebidas pelo amplificador. Os donos dos amplificadores high gain é que sofrem por precisarem ser mais zelosos no transporte. 9. Conclusão Algumas lendas são verdadeiras e comprováveis tecnicamente, outras não. No caso de se obter um timbre vintage, eu ressalto três exigências básicas, por ordem de importância no timbre: 1. Alto-falantes vintage ou réplicas exatas. Pode-se arriscar com outros falantes, mas os resultados, via de regra, são decepcionantes. 2. Transformadores de saída. Estes devem ter uma série de requisitos mínimos a serem considerados na hora da confecção e isso demanda um certo conhecimento e raciocínio lógico de quem os projeta. Os requisitos máximos também devem ser levados em conta, para não termos transformadores “bons demais” para a aplicação e estragar o timbre. Lembre-se; aqui estamos discutindo tudo no âmbito da produção de timbres vintage de guitarra e não reprodução o mais perfeita possível de audio. 3. Circuitos simples. A lei do menos é mais prevalece aqui de forma bastante concreta. (Artigo Resgatado do antigo site tubeamps)

historia_valvulados.txt · Última modificação: 2021/08/19 00:36 (edição externa)